Espinhas e queda de cabelo: como pandemia da Covid-19 agravou problemas de pele
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![Mulher se coçando](https://c.files.bbci.co.uk/C755/production/_114292015_gettyimages-1197813776.jpg)
Desde o início da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), milhões de pessoas se isolaram para evitar a contaminação . Mas o estresse e a falta de sol causados pelo tempo dentro de casa, segundo dermatologistas ouvidos pela BBC News Brasil, são um gatilho para desencadear um aumento e o agravamento de doenças de pele.
Paulo Oldani, chefe do serviço de dermatologia do Hospital Federal dos Servidores do Rio de Janeiro, explica que isso ocorre porque há uma ligação entre o sistema nervoso e a pele. Isso faz com que o estado emocional de alguém se reflita diretamente no órgão .
Entre as doenças mais comuns catalisadas pelo estresse estão a dermatite, caspa, espinhas, queda de cabelo , rosto vermelho e testa oleosa . Mas a psoríase é a mais recorrente delas, segundo os dermatologistas entrevistados pela reportagem.
“Essa doença normalmente aparece em pessoas que têm uma predisposição genética. O gatilho pode ser o estresse e a mudança de rotina . Em geral, você tem mais de uma causa, mas depende muito do paciente”, afirma Oldani.
Ele diz que algumas pessoas sentem inclusive sintomas como dor de estômago e enxaqueca.
![Cabelo com caspas](https://c.files.bbci.co.uk/11575/production/_114292017_gettyimages-118055850.jpg)
O médico afirma que a falta de sol por si só não é capaz de disparar esse gatilho durante a pandemia no Brasil.
Seria necessário, diz ele, um tempo muito maior sem luz — inclusive indireta — para ocorrer uma deficiência de vitamina D . Ao contrário, ele diz que há relatos de que pessoas que dizem ter reduzido manchas escuras no rosto por conta do uso da máscara e uma menor exposição ao sol.
Os especialistas entrevistados pela reportagem citam como exemplo estudos feitos com idosos acamados, que chegam a passar meses longe do sol. As pesquisas revelam que o nível de vitamina D deles não chegou a um estado crítico.
Cristiano Horta, da Sociedade Brasileira de Dermatologia e chefe do setor no hospital Ipiranga, em São Paulo, diz que, no caso de pessoas que tiveram a covid-19, os cuidados e remédios usados para o tratamento hospitalar também desencadeiam problemas de pele. Há relatos de pessoas que deixaram o hospital com inchaços, com feridas na pele e vermelhidão.
Ele ainda cita o aumento da dermatite de contato causada principalmente em profissionais que passaram a usar equipamentos de proteção como luvas, botas de borracha e aventais que dificultam ou até mesmo impedem a transpiração.
“Por conta da pandemia, algumas pessoas também tiveram dificuldade em buscar em remédio e relataram uma piora no quadro da psoríase. No nosso hospital, houve um aumento da incidência e uma piora no quadro dos pacientes. Entre aqueles que estavam em tratamento, um terço apresentou um agravamento. A procura por atendimento aumentou em 50%”, afirmou Horta.
A psoríase é formada por placas vermelhas escamativas em lugares como cotovelo, joelho e axilas. Ela causa manchas vermelhas, coceira e inchaço .
Tratamento
A psoríase é uma doença crônica e não tem cura, mas há diversos tratamentos, dependendo do estágio da doença. Os mais comuns são o uso de pomadas, cremes e anti-inflamatórios . O mais simples é tomar sol , mas todos devem ser receitados por um médico, que vai avaliar cada caso.
“A falta de sol aliada ao estresse agrava muito o quadro . Quando o paciente não pode tomar sol em quantidade suficiente, fazemos fototerapia com raios ultravioleta. Mas a luz natural também tranquiliza e reduz o estresse, o gatilho mais importante”, afirmou.
Os médicos explicam que o estresse por si só não é capaz de desenvolver a doença e que ela normalmente aparece em pacientes que têm uma predisposição. Mas ela também pode ser causada por um trauma físico, como um acidente.
“Normalmente a pessoa já tem um histórico na família e, quanto mais próximo o parentesco, maior a chance desenvolver. Por outro lado, alguém pode ter todos os genes e nunca desenvolver a doença”.
A psoríase, segundo os médicos é uma doença que pode afetar diversos órgãos além da pele . Ela pode ser, inclusive, associada a um quadro de obesidade, hipertensão, artrite e até diabetes.
![Pessoa passando creme em braço com psoríase](https://c.files.bbci.co.uk/16395/production/_114292019_gettyimages-1216211978.jpg)
A doença não é contagiosa, mas causa coceira e incomodo estético para o paciente.
“A grande maioria dos casos são leves e tratados facilmente, mas uma crise pode fazer com que eles reapareçam. Nos casos mais graves, porém, o paciente passa a ter problemas sociais pela questão estética. Hoje há tratamentos que conseguem manter o paciente controlado e praticamente sem lesão. Mas ela também pode se espalhar pelo corpo inteiro, a pele toda”, afirma Horta.
A Organização Mundial da Saúde , segundo Cristiano Horta, definiu a psoríase como uma doença incapacitante quando atinge seu estado mais grave. Isso ocorre porque nesses casos o paciente não consegue trabalhar, ter um relacionamento social normal e ainda corre o risco de desenvolver comorbidades, como artrite, destruição óssea, obesidade, diabetes e hipertensão.
Uma pessoa com psoríase, segundo ele, ainda tem uma expectativa de vida seis anos menor e uma chance três vezes maior de ter um infarto que a média da população.
Horta relata que médicos e parte dos pacientes acreditavam que a doença fosse apenas psicológica e que não havia tratamento, mas hoje entendem que é uma alteração do sistema imunológico e que há tratamentos capazes de controlar o problema de maneira significativa.
“Recentemente, atendi uma paciente que está há dois anos sem lesão nenhuma. Ele disse: ‘Você não sabe a felicidade que é abrir o armário e escolher a roupa que eu quiser e ir para a praia. Me sinto muito mais à vontade com meu marido também’. E ainda assim tem muito médico acreditando que é uma doença neurológica e clínico achando que não tem o que fazer”, afirmou.
![Mulher com a mão nos olhos com expressão de cansaço](https://c.files.bbci.co.uk/7D1D/production/_114292023_gettyimages-1148111657.jpg)
O especialista disse que a acne , porém, atinge principalmente os mais jovens, com idades entre 12 e 15 anos. Mas ele pondera que isso pode ter ser agravado por outros fatores, como a alimentação.
“O estresse aumenta a secreção sebácea, mas a alimentação pode mudar o perfil do sebo e isso ajuda a formar o cravo, que é o primeiro passo da acne. E a gente lembra que alimentação não é só o nutriente, mas o processo de absorção corporal, de como o corpo vai receber aquilo. A gente sempre tenta relacionar a acne a um tipo de alimento, como óleos, amêndoa, leite, mas nem sempre tem correlação muito clara”, diz Horta.
O chefe do setor de dermatologia do hospital Ipiranga afirma que a acne é uma doença inflamatória sistêmica em quem geralmente tem mais sensibilidade a lactose ou gordura e que pode ser acelerada pelo estresse. O médico afirma, portanto, que não é possível correlacioná-la a apenas um fator, mas que “neste momento de pandemia a gente percebe que tem uma procura maior”.
![Mulher com expressão de cansaço](https://c.files.bbci.co.uk/2EFD/production/_114292021_gettyimages-1084171600.jpg)
Os dermatologistas fazem um apelo para que as pessoas procurem um médico se perceberem um agravamento ou surgimento de doenças desse tipo. Eles afirmam que os os consultórios estão reabertos e seguindo as medidas sanitárias adequadas para atendimento de maneira segura e que ainda há a opção pela teleconsulta para evitar uma contaminação.
“É importante que a pessoa não espere o término da pandemia para procurar um médico porque isso pode causar um sério agravamento da doença. Não postergar a consulta é o melhor a se fazer para não agravar o quadro. Nesses casos, a acne pode deixar cicatrizes, a psoríase pode atingir outros órgãos e a dermatite pode inflamar e incomodar muito”, afirmou Horta.
Para evitar o agravamento dos casos ou surgimento da doença, os médicos reforçam que o ideal é extravasar o estresse por meio de atividades físicas, dormir melhor e se alimentar de maneira maneira saudável.
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